Cannabis é mesmo um bom negócio? Depende para quem…

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Cannabis é mesmo um bom negócio? Depende para quem…

Imagem ilustrativa

Já foi o tempo em que os negócios canábicos estavam na cabeça apenas de megainvestidores como George Soros e seus amigos mais chegados.

De pouquíssimos anos para cá, empresas como a BAT (British American Tobacco – a antiga Souza Cruz)1, Amazon2 , Ab Inbev – que controla a Ambev3, até a Coca Cola4, dentre outras, acompanham atentas ou endossam o jogo da legalização da Cannabis.

Um dos mais ativos players do narcogame é o empresário norteamericano Charles Koch, que investe milhões de dólares em movimentos tais como Americans for Prosperity e Cannabis Freedom Aliance.

Sua tarefa é convencer políticos de todos os matizes ideológicos [republicanos ou democratas] que, se aprovada a ampla legalização da Cannabis em todos os Estados Unidos, haverá um mercado com perspectiva de se alcançar cem bilhões de dólares/ano – com uma imensa gama de produtos contendo tetrahidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD)5.

Incauto, acredita piamente que a aculturação mercadológica de mais drogas, iria trazer liberdade e prosperidade para as presentes e futuras gerações de americanos.

É mais que sabido hoje que uma sociedade com baixa percepção de risco em relação a qualquer droga [seja lícita ou não] pavimenta a experimentação e utilização de múltiplas substâncias.

Alguém precisa avisar que cento e quarenta e três mil pessoas morreram de overdose de heroína entre 1999 e 2020 nos Estados Unidos6. E que juntos, comprimidos de Fentanyl, metanfetaminas e cocaína, mataram mais de cem mil pessoas por lá, entre dezembro/2020 e dezembro/2021, incluindo adolescentes. 7

Será que acredita mesmo!? Que com a legalização da Cannabis o crime organizado iria se enfraquecer? Carecia de ver como atua no Brasil. Na conexão com países vizinhos, sempre mercadejou cocaína, Cannabis, cigarros de tabaco [droga lícita] por meio do contrabando; e já ensaia passos não tão curtos no comércio dos cigarros eletrônicos e afins.

A glamourização da Cannabis é tamanha, que na Europa, há quem sustente que o canabidiol (CBD) seria o alimento funcional do futuro. Felizmente, a European Food Safety Authority – EFSA – a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar – tem demonstrado os perigos mais que óbvios desse absurdo.

O CBD, apesar de não ser psicotrópico e alucinógeno como o THC, interage com diversos receptores neuronais, pode ter efeito cumulativo, afetar o fígado, o sistema reprodutor [masculino e feminino] e o peso fetal. Causa efeitos colaterais como diarreia, náusea, vômitos, desconforto e constipação. Ademais, falta avaliar a sua interação com outras drogas.8

Há sim algumas indicações terapêuticas para o CBD [ou mesmo o THC em doses mínimas], mediante prescrição médica, seguindo as normas regulatórias da Anvisa. O uso medicinal da planta, por outro lado, não deve ser feito de modo caseiro, devido sua alta toxicidade e necessário acerto na dosagem das substâncias nela contidas. Cannabis não é maracujina ou chazinho de erva-doce.

Certo que alguns países como a Espanha permitem a plantação de Cannabis ruderalis [variedade mais conhecida como cânhamo] com propósitos industriais.

O cânhamo, originalmente, era uma planta rica em CBD e pobre em THC. As suas fortes fibras serviram para a manufatura de cordas e velame na época das caravelas.

Todavia, modificações genéticas em quaisquer plantas do gênero da Cannabis possibilitam exemplares com concentração de THC na estratosfera. Um rolo compressor para cérebros em formação, deflagrador de esquizofrenia em indivíduos geneticamente pré-dispostos, causador de ansiedade, depressão, ideação suicida, dependência química, síndrome amotivacional, em meio a tantos outros males e comportamentos violentos, afora acidentes de trânsito e ocupacionais.

Em solo espanhol, há plantações “oficiais” de cânhamo [pretensamente para tecidos e outros usos industriais] com plantas geneticamente modificadas, contendo alto teor de THC. 9 Bem mais lucrativo que se fabricar a partir do cânhamo camisetas, sandálias ou material náutico. O crime organizado inventou até as plantações “volantes” de Cannabis [dentro de caminhões com sofisticados sistemas de iluminação e irrigação no compartimento de carga]. 10

E nossa terra brasilis como fica nessa?

O Projeto de Lei 399/15 objetiva uma Cannabisland tupiniquim.

Se aprovado for, iremos nos tornar mais “avançados” que El Rey.

De saída, não só o CBD, mas o THC pretende fazer parte dos cereais matinais, das balas de goma [“jujubas”], dos cookies, bebidas… enfim, da lancheira da garotada e da cantina da escola. Soaria cômico, não fosse trágico, o contrabando de biscoitos [ou bolachas] turbinadas de THC, ou fábricas caseiras comandadas pelo crime organizado. Tem até jingle pronto aquela música cuja letra diz que eu vou plantar no meu quintal/uma verdinha/prá vender a 1 real.

Bom negócio… resta saber para que e para quem.

(*) promotor de justiça, especialista em Dependência Química.

1 https://www.bbc.com/news/business-57995285

2 https://nypost.com/2022/01/25/amazon-endorses-bill-legalizing-marijuana-on-federal-level/

3 https://www.ab-inbev.com/content/dam/universaltemplate/ab-inbev/investors/reports-and-filings/sec-filings/Form%2020-F_2020_Final.pdf

4 https://www.bnnbloomberg.ca/coca-cola-in-talks-with-aurora-to-develop-cannabis-drinks-sources-1.1138528

5 https://forbes.com.br/forbes-money/2021/08/bilionario-charles-koch-explica-por-que-a-cannabis-deveria-ser-legalizada/

6 https://www.cdc.gov/drugoverdose/deaths/heroin/index.html

7 https://www.ama-assn.org/system/files/issue-brief-increases-in-opioid-related-overdose.pdf

8 https://www.food-safety.com/articles/7801-efsa-cannot-determine-safety-of-cbd-as-a-novel-food

9 https://www.guardiacivil.es/es/prensa/noticias/8003.html https://www.guardiacivil.es/ca/prensa/noticias/8188.html

10 https://www.20minutos.es/noticia/4744988/0/cae-organizacion-cultivaba-marihuana-camiones-castilla-leon/

Dr. Guilherme A. R. Franco, Promotor de Justiça, especialista em Dependência Química

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