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A fazenda e o THC

Todo 🧠 cérebro importa! “Every brain matters” –  ensina o heroico movimento social de famílias do Colorado/EUA [resistem bravamente para preservar cérebros em formação –  em um dos primeiros estados norteamericanos que legalizou o chamado “uso recreativo” ou “adulto” da Cannabis].

As famílias de Every brain matters foram  uma das únicas a  denunciar que o governador do Colorado se portava nas redes sociais como garoto propaganda de uma espécie de máquina automatizada que fornecia produtos derivados de Cannabis, como se fosse salgadinho ou refrigerante. Do tipo:  “aproxime o cartão ou o celular com  NFC e leve na hora sua dose de THC.”

Agora, mais recentemente, essas famílias alertaram ao mundo que, quiçá bem intencionado, o então Presidente Donald Trump, foi quem sancionou em 2018 a lei [“Farm Bill”] que permitiu desde então as plantations de Cannabis ruderalis [variedade da Cannabis conhecida como cânhamo ou “hemp”]  em todo o solo norteamericano.

O pretexto para a aprovação da “lei das fazendas”  [tradução livre]   é que o cânhamo [C. ruderalis]  seria uma planta “rica” em CBD [canabidiol, de uso terapêutico, não psicoativo –  não “dá barato”…] e com resistentes fibras vegetais –  para a confecção de vestuário e cordas náuticas, por exemplo.

Entretanto, tragédia mais que anunciada, produtores de Cannabis ruderalis,  logo se puseram a extrair da planta o psicoativo Delta 8 Tetrahidrocanabinol –  ou Delta 8 THC.

Segundo ato da tragédia.   O  Delta 8 THC, assim como o Delta 9 THC  [este último talvez o psicoativo mais conhecido da Cannabis],  é largamente utilizado na fabricação de alimentos ultraprocessados, os “edibles”  coloridos, adocicados, nitidamente direcionados para as crianças.

Terceiro ato por lá de um roteiro macabro e interminável.

Crianças precocemente passaram a consumir THC [8 e 9].  Quer por ingestão acidental [em se tratando de bebês atraídos pela “embalagem”, cheiro e sabor do produto tutti-frutti],  quer por que já se dissemina a “droga de comer”  na hora do recreio das escolas.  

Já não bastam os cigarros eletrônicos que são consumidos por quase 30% dos estudantes do ensino médio dos EUA [e muitos deles fazem o uso “dual”:  sais de nicotina e THC ou outra droga no “cartucho” do “vaper”], temos o marshmallow ou os cookies  que podem causar esquizofrenia em indivíduos pré-dispostos geneticamente, além de outros inúmeros males associados à Cannabis:  do rebaixamento das funções executivas do cérebro à ideação suicida…

Every Brain Matters vive hoje nos EUA o que está mui próximo de ocorrer aqui no Brasil.

Nosso “Farm Bill” pode ter a porteira “destramelada”  a depender do resultado do julgamento do Recurso Extraordinário [com repercussão geral], acerca da suposta e inexistente “inconstitucionalidade” do artigo 28 da Lei de Drogas [Lei 11.343/2006], o que criminaliza com penas alternativas à prisão a posse de drogas para consumo pessoal. 

Entre sucessivas colocações e retiradas de pauta, o Colegiado Supremo irá retomar o julgamento no dia 21 de junho p.f.  

Já são três votos [Ministros Gilmar Mendes, Barroso e Fachin]  para se recortar e tirar fora do SISNAD –  nosso Sistema Nacional de Política sobre Drogas  –  a norma que não leva ninguém à cadeia, mas impõe necessário controle social em um país de dimensões continentais. 

Em nossa terra, de endêmica e rasa tradição regulatória, se houver mais um voto que seja pela descriminalização das drogas,  literalmente  a sociedade terá sua percepção de risco sobre tão grave tema ainda mais fragilizada.

Um sinal de fumaça para que caminhemos a passos entorpecidos para o poço sem fundo do “thcinismo” ou outras dependências.

Será, outrossim, a chave para a aprovação do pernicioso PL  [Projeto de Lei n. 399/15 –  ora em trâmite na  Câmara dos Deputados]  e transformar Pindorama  em Cannabisland em um primeiro momento. E em breve tempo,  Cocaineland.

Tudo com muito açúcar na paçoquinha e nos dispositivos eletrônicos para fumar –  na boca do caixa das padarias e mercados.   Formatos hightech  “pensados” maldosamente para os millenials.  

Ainda há tempo para se dizer neste fazendão de meu Deus, no qual se plantando tudo dá: “todo cérebro e todo pulmão importam! Não é sobre direita ou esquerda – até porque esses órgãos têm dois lados em simetria.  É sobre cuidar do broto, para que a vida nos dê flor e frutos.”

Guilherme Athayde Ribeiro Franco Promotor de Justiça em Campinas-SP Especialista em Dependência Química – UNIAD-UNIFESP

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