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Unesp lança cartilha que ensina a fazer composteira em casa

Material criado no Centro de Ciências de Araraquara estimula a conscientização ambiental

O Centro de Ciências de Araraquara (CCA), vinculado do Instituto de Química (IQ) da Unesp lançou recentemente uma cartilha didática que ensina de maneira simples a fazer e cuidar de uma composteira doméstica. O material, que está disponível online, foi produzido com foco no público em geral, não apenas para explicar o processo de criação de um adubo rico em nutrientes, mas principalmente para conscientizar a comunidade sobre os problemas causados pelo descarte desnecessário de lixo orgânico.

Sidineia Barrozo, docente do IQ e coordenadora do projeto, ressalta que o objetivo da iniciativa é educar sobre o cuidado com o meio ambiente. “O descaso com a natureza aumentou muito nos últimos anos e todos nós acabamos perdendo, seja com complicações na área da saúde ou na economia. Não temos mais como adiar essa questão do reaproveitamento e continuar produzindo lixo da forma como é feito atualmente”, destaca. Para a professora, cabe também aos profissionais da área de educação assumir o papel de informar a sociedade. “Não existe jogar o lixo fora porque ele sempre continua no planeta. Já que faltam políticas públicas voltadas para a educação ambiental no Brasil, a responsabilidade de aperfeiçoar as formas de manuseio do lixo precisa ser compartilhada por todos nós”, completa.

Composteiras do tipo leira são montes que podem ser preparados diretamente no solo. Foto: Sidneia Barrozo

As composteiras ainda são pouco conhecidas pelos brasileiros e muitas pessoas não sabem que lixo orgânico também pode ser reciclado. Um brasileiro produz, em média, 380 kg de resíduos sólidos por ano. Em todo o mundo, são dois bilhões de toneladas geradas anualmente, sendo que 44% do montante são restos de vegetais e outros alimentos que poderiam ser reaproveitados para produção de adubo. Boa parte, no entanto, acaba sendo levada para lixões a céu aberto, contaminando o solo, a água, destruindo a fauna e a flora, além de aumentar o risco para a saúde das pessoas que moram ao redor, que são expostas ao mau cheiro, a bactérias e à proliferação de doenças causadas por animais como ratos, moscas, baratas e urubus. Outro fator alarmante é que até 2050 estima-se que a produção mundial de lixo terá um aumento de 70%, o que gera ainda mais preocupação na comunidade ambiental. O cenário será insustentável a médio e longo prazos.

 Na cartilha “Compostagem Doméstica- Mudando a realidade em nosso meio”, o grupo da Unesp ensina a construir composteiras em leiras, que são montes que podem ser preparados diretamente no solo, utilizando apenas uma pá e um garfo forcado. No local, são colocadas camadas de folhas secas, serragem ou palha, esterco e resíduos, formando uma pilha. Na cartilha, os especialistas abordam desde a fase ativa da compostagem até sua maturação. “É importante que o composto esteja suficientemente maduro, o que pode levar até 4 meses, dependendo das condições do ambiente, antes de ser aplicado no solo. Após a maturação, basta peneirar e usar o adubo em qualquer tipo de planta em jardins, hortas e vasos”, conta Sidineia.

Composteira do CCA foi montada com a participação de estudantes do IQ. Foto: Sidneia Barrozo

A motivação para elaborar o referido material começou ainda em 2020, quando após uma pesquisa bibliográfica o grupo de estudantes e docentes da Unesp montou uma composteira embaixo de um grande Oiti. “Nós aprendemos o processo e descobrimos os problemas que poderiam surgir”, lembra Sidineia. Após adquirir experiência na produção do adubo, o grupo passou a escrever o material para divulgar o passo a passo à comunidade,   já que as composteiras são extremamente viáveis de serem implementadas em casas, condomínios, hortas comunitárias e escolas, por exemplo.

A docente explica que diferente de abandonar restos de alimentos a céu aberto, o processo de decomposição em uma composteira se desenvolve em ambientes controlados. “A compostagem é o processo biológico de degradação de resíduos orgânicos que, na presença de oxigênio, umidade, materiais corretos e em quantidades adequadas e microrganismos como fungos e bactérias, transformam esses resíduos em adubo abundante em nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), fundamentais para o crescimento saudável de plantas”, descreve a professora.

O  material traz ainda informações sobre o que não pode ser colocado na composteira e uma tabela com possíveis problemas que podem surgir durante sua montagem e como resolvê-los. Um pé de hortelã localizado na Trilha Sensorial do CCA – na qual visitantes passam vendados para tentar descobrir as plantas medicinais cultivadas no local através do tato e do olfato – já recebeu adubo produzido nas próprias composteiras do Centro. “Ele estava quase morrendo, com folhas pequenas, e agora já está bem saudável, bonito, com folhas bem maiores”, conta a coordenadora do projeto.

Existem diferentes tipos de composteiras, mas as mais comuns encontradas no Brasil são chamadas de vermicomposteiras. Elas são feitas com caixas colocadas em pilhas. Seus fundos são furados para que as minhocas possam transitar entre os recipientes comendo todos os resíduos ali presentes. Nesses casos, as fezes do animal se tornam o adubo que será utilizado.  “Ela é adequada, por exemplo, para quem vive em apartamento ou tem pouco espaço no quintal. Para quem tem espaço maior, assim como escolas ou hortas comunitárias, as composteiras em forma de leira são ideais, pois são simples de fazer e manusear, podem receber resíduos mais variados e tem custo praticamente zero. É essa que ensinamos as pessoas a fazerem na cartilha”, diz Sidineia.

Financiada pela Pró-Reitoria de Extensão da Unesp, a cartilha foi produzida por alunos e professores participantes do projeto “Flora e Fauna do CCA: conscientização ambiental para os cidadãos de Araraquara e região”. O lançamento do material que ensina a fazer uma composteira acontece oficialmente hoje, dia 21 de setembro, em evento que compõe a 15ª Primavera dos Museus, iniciativa promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). Para o futuro, os pesquisadores pretendem levar o projeto até as escolas para que crianças aprendam desde cedo sobre conscientização ambiental. “Nós queremos ajudar a reproduzir essa iniciativa em escolas, em hortas comunitárias de bairros e em condomínios, além de envolver todo o entorno do CCA, oferecendo para a população a oportunidade de descartar seus resíduos nas composteiras da Unesp e se beneficiar do adubo ali produzido”, conclui a docente. Em breve, se o cenário pandêmico continuar melhorando, as composteiras do Centro de Ciências poderão ser visitadas.

Fonte: Eduardo Sotto Mayor, para a Assessoria de Comunicação do IQ/Unesp

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