Cantora foi eleita pela Rádio BBC como a cantora brasileira do milênio

Nesta Quinta-feira, 20, a música brasileira perdeu uma de suas vozes mais representativas. A cantora Elza Soares morreu em sua casa, de causas naturais, aos 91 anos. “Ela estava bem, gravou o DVD no dia 17 e 18 de janeiro. Acordou hoje e fez fisioterapia. Tudo normal. A gente até percebeu um leve cansaço nela, uma respiração mais ofegante, mas achamos que foi por causa da fisio”, lembrou Pedro Loureiro, empresário de Elza Soares. “No DVD, a última música que ela cantou, cantou em vida, foi: ‘Me deixem cantar até o fim'”, lembra.

Sua Equipe de produção emitiu a seguinte nota:

“É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais. Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim”. Comunicado publicado em redes sociais da cantora e assinado por assessores e familiares.

Nessa mesma data, em 1983, também faleceu Mané Garrincha, um dos ícones do futebol brasileiro , que foi marido da cantora. Elza deixa os filhos: Manuel Garrincha dos Santos Júnior, Dilma Soares, João Carlos Soares, Sara Soares.

Vida e obra

Elza Soares nasceu em 23 de junho de 1930, no Rio de Janeiro, na favela da Moça Bonita, atualmente Vila Vintém, no bairro de Padre Miguel, zona norte da cidade. A menina Elza Gomes da Conceição veio de uma família humilde e ainda pequena mudou-se para um cortiço no bairro da Água Santa, onde foi criada.

Elza iniciou sua carreia artística fazendo um teste na Rádio Tupi, no programa “Calouros em Desfile”, de Ary Barroso, e conquistou o primeiro lugar. Após o concurso ela fez um teste com o maestro Joaquim Naegli e foi contratada como crooner (cantor de orquestra ou conjunto musical) da Orquestra Garam de Bailes, onde trabalhou até 1954, quando engravidou. No ano seguinte, voltou a cantar na noite e em 1960 lançou seu primeiro disco, “Se Acaso Você Chegasse” e, em 1962, seu segundo LP, “A Bossa Negra”.

Em 1962, Elza fez apresentações como representante do Brasil na Copa do Mundo no Chile, onde conheceu Louis Armstrong (representante artístico dos Estados Unidos), que lhe propôs fazer carreira nos EUA. Neste mesmo ano ela conheceu Garrincha, com quem se casaria e teria um relacionamento conturbado.

Elsa Soares fez carreira no samba, mas também transitou do jazz ao hip hop, passando pela MPB, lançando 36 discos na carreira. Ela foi eleita, em 1999, pela Rádio BBC de Londres como a cantora brasileira do milênio. A escolha teve origem no projeto The Millennium Concerts, da rádio inglesa, criado para comemorar a chegada do ano 2000. Além disso, apareceu na lista das 100 maiores vozes da música brasileira elaborada pela revista Rolling Stone Brasil.

A cantora também ganhou diversos prêmios como três prêmios Grammy Latino e dois WME Awards e, em 2020, foi tema do enredo da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel.

Elza Soares foi uma grande batalhadora contra o racismo, dando oportunidade a muitos cantores negros . Elza será velada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em cerimônia aberta ao público.

A morte de Elza repercutiu no meio cultural, artístico e político. A Mocidade Independente de Padre Miguel, escola de samba do coração de Elza, decretou luto oficial e escreveu em suas redes sociais “Você foi uma das maiores deste país. Só podemos agradecer por tudo. Consternados! Essa é a nossa despedida! Obrigado, Deusa. Nós não vamos sucumbir nunca!”

Zeca Pagodinho, Criolo, Alcione, Paulinho da Viola, Emicida, Gilberto Gil, Taís Araújo, Martinho da Vila, Leci Brandão, Mano Brown, Flávia Oliveira, Fernanda Abreu usaram as redes sociais para homenageá-la. Caetano Veloso, afirmou “Elza Soares foi uma concentração extraordinária de energia e talento no organismo da cultura brasileira”.

No âmbito político, a voz de Elza em defesa da democracia foi lembrada pelo ex-presidente Lula, “Perdemos não só uma das melhores cantoras e vozes mais potentes do Brasil, mas também uma grande mulher, que sempre defendeu a democracia e as boas causas”. Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, decretou luto oficial de 3 dias por sua morte.

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