“Sempre foi um guerreiro”, disse a esposa Rafaela Pelegrino, que se casou oficialmente com o companheiro no hospital na tarde de sexta-feira (24). “Ele me deu um chocolate de presente de casamento e nós comemos juntos”, contou ela ao g1.
O corpo do jovem será velado nesta segunda-feira (27), das 7h às 10h, e será enterrado às 10h30 no Cemitério Municipal de Matão.
Calera assinou a certidão de casamento no hospital em São José do Rio Preto (SP) — Foto: Rafaela Pelegrino
Internado no Hospital de Base de São José do Rio Preto (SP) desde o início deste ano, Calera queria realizar alguns sonhos. Um deles era rever a filha, que completou seis meses neste domingo. O outro era se casar e ficar uma semana em casa com a família. Como a situação dele era delicada, o médico permitiu que a celebração fosse feita no hospital.
Na sexta, Calera ficou emocionado com a presença da esposa e da bebê, além dos pais adotivos, irmãos, tia e sobrinha, que se revezaram das 11h30 às 14h, para passar alguns momentos no quarto.
“A gente conversou, assinamos os papéis, nos casamos, tiramos muita fotos e deu tudo certo. Ele ficou muito feliz, todos nós. Foi um momento muito emocionante”, contou Rafaela. “Ele queria comer lasanha e ganhou”, completou ela.
Jovem de Matão (SP) reunido com a família no hospital de São José do Rio Preto — Foto: Rafaela Pelegrino
Rejeição ao transplante
Calera foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no dia 3 de janeiro devido a problemas causados pela rejeição ao transplante. O jovem teve algumas complicações, como trombose pulmonar, três infecções, crises de ansiedade.
“Após as infecções, ele pegou um fungo. Os médicos tentaram de tudo, mas o caso era irreversível. Na quinta-feira (23), avisaram a família”, contou a prima Débora Rigueiro.
Um dia depois os familiares conseguiram se reunir para realizar o sonho de Calera. “Ele sempre lutou muito pela vida, desde bebê passou muito tempo internado. Era um menino muito alegre que divertida todo mundo, tinha vontade de viver”, relembrou a prima.
Calera realizou o sonho de rever a filha — Foto: Rafaela Pelegrino
Transplante duplo de pulmão
O transplante de Calera foi feito em 15 de fevereiro no hospital de São José do Rio Preto em uma cirurgia que durou 12 horas. Foi o primeiro transplante duplo do interior do Estado de São Paulo e sexto transplante de pulmão realizado no hospital.
“É bem delicado o processo. Você vê o pulmão que acabou de implantar funcionar para depois colocar o outro. É bem complexo. A gente considera os transplantes visceral e o de pulmão os mais complexos”, explicou o cirurgião torácico Henrique Nietmann, que participou do procedimento.
O jovem, que tinha fibrose cística e estava na fila há um ano e meio, recebeu os órgãos de um doador do Rio de Janeiro. A doença foi diagnosticada quando ele tinha quatro anos.
A fibrose cística é uma doença genética, crônica, que faz com que o corpo produza muco de 30 a 60 vezes mais espesso que o usual, podendo causar inchaço e inflamações nos pulmões e infecções como pneumonia e bronquite.
Morador de Matão (SP), Calera morreu no domingo (26) aos 22 anos — Foto: Rafaela Pelegrino