Meninas de 10 a 14 anos de idade são maioria das vítimas de estupros

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Meninas de 10 a 14 anos de idade são maioria das vítimas de estupros

Maioria dos casos aconteceu em seus próprios lares , evidenciando-se que adolescentes nem sempre encontram na família um lugar de proteção

Pesquisas cientificas apontam que no Brasil, a maioria (67%) dos 69.418 estupros cometidos entre 2015 e 2019 tiveram como vítimas meninas com idade entre 10 e 14 anos. O destaque é do estudo “Sem deixar ninguém para trás – gravidez, maternidade e violência sexual na adolescência”, do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), vinculado à Fundação Oswaldo Cruz Bahia (Fiocruz). Também assinam a pesquisa o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
O que subsidiou o levantamento foram dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan-Datasus), do Ministério da Saúde. No período de análise, adolescentes com idade entre 15 e 19 anos representam 33% do total de vítimas de estupro.
Os estados revelam ainda que pelo perfil das vítimas, o que se constata é que prevalecem as meninas pardas (54,75%). Em seguida estão garotas brancas (34,3%), pretas (9,43%) e, por fim, indígenas (1,2%).
Outro dado que se consolida mais uma vez, como em outros estudos, é o que diz respeito à relação entre as vítimas e os agressores. De acordo com a pesquisa, 62,41% dos autores do crime eram conhecidos das vítimas, contra apenas 17,22% de desconhecidos.
Por meio das notificações reunidas pelo governo federal, observam-se, ainda, três dados de relevância. O primeiro é o fato de que o estupro costuma acontecer no interior dos lares das vítimas. No total, 63,16% dos episódios se deram nesse contexto. Em 24,8% das vezes, o local era público e, em 1,39% dos casos, o estupro ocorreu em uma escola. O estudo mostra que fica evidenciado então que adolescentes nem sempre encontram na família um lugar de proteção.
Para a gestora do “Projeto Bem Me Quer” do Hospital da Mulher, psicóloga Daniela Pedroso, é preciso ter em vista que, assim como em relacionamentos entre mulher e companheiro, em que ele a agride, as emoções das vítimas menores de idade se misturam, quando o agressor é alguém de seu círculo. Em muitos casos, o agressor causa confusão de sentimentos na vítima, inclusive por propor que ela guarde para si o ocorrido, como se se tratasse de um acordo de confiança que não pode ser rompido, já que a consequência seria perder o afeto do agressor.
Vale destacar que os agressores podem ser conhecidos; podem ser pessoas que são provedoras dessas crianças (Grifo nosso).

A psicóloga Daniela Pedroso, coordenadora do Ambulatório de Violência Sexual na unidade, trabalha no local há 26 anos e chama a atenção para o fato do abuso sexual da criança ser um caso crônico e recorrente. Segundo Pedroso destaca que a pessoa que devia proteger a criança está praticando o abuso e esse dado choca porque é a ambivalência não só do sentimento da criança, mas também da ambivalência do comportamento do agressor.
Na avaliação da psicóloga, a qualidade no atendimento é um fator capaz de definir a permanência das vítimas no hospital, conforme as recomendações. Segundo ela, além de oferecer o tratamento de profilaxia, que as protege contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e tem maior efeito em uma janela de 72 horas após o estupro, o Hospital da Mulher também oferece cuidados em outras áreas importantes, como por exemplo, encaminhamento a assistentes sociais, que orientam e acolhem, e as consultas com pediatras ou ginecologistas da equipe do ambulatório e com psicólogos.
A psicóloga orienta que todas as vítimas têm direito a ter atendimento mesmo sem apresentar boletim de ocorrência, ou seja, basta que se dirijam à unidade. Ela reitera a contribuição dos psicólogos, pois irá atenuar o sofrimento psíquico, a partir da transformação da memória em torno do estupro que se vivenciou.
Cabe registrar que é difícil apagar situações como esta da memoria de uma criança ou de uma adolescente, ou de uma jovem, entretanto, o encaminhamento psicológico necessita ser feito e efetivado para que essas jovens sofram o menos possível e transformem suas vias de maneira positiva e ressignificar esse trauma.

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