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Carne de segunda e de terceira estão mais caras

Miúdos de frango estão mais caros - Foto Reprodução Redes Sociais

‘Carne de ossos’: carcaça temperada, pé de galinha, pescoço, miúdos de frango e outros cortes de terceira estão com preços elevados.

Os preços nas prateleiras dos supermercados sofreram variações quase que diárias. Gasolina, gás de cozinha, diesel , dentre outros produtos, todos ficaram mais caros . Preço da carne então, com certeza já está elevado há tempos e agora, as partes que antes tinham menos procura seguem no caminho dos cortes nobres. A média de preço aponta para até 60% a mais do que há 1 ano atrás. Basta conferir em açougues , sejam particulares ou naqueles que funcionam dentro de qualquer supermercado.

Nos açougues é possível constatar que carcaça temperada, pé de galinha e pescoço, entre outras partes de boi, vaca e porco, tiveram um aumento de procura e encareceram.

Em São Paulo, capital,  o pescoço de frango teve elevação 15,79% no preço em setembro na comparação dos 12 meses, segundo a consultoria Safras e Mercados. A carcaça temperada de frango subiu 45%, o dorso, 60%. Entre os suínos, a maior alta foi no espinhaço (23,91%), que é a “coluna” do porco, e na orelha (20%). Os miúdos de frango, como fígado, moela e coração também tiveram aumento expressivo em seus valores/quilo.

A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) não disponibiliza dados sobre desses cortes e a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se restringe a carnes de primeira e de segunda ou ao produto como um todo, no caso do frango e porco, entretanto a Abrafrigo observa que nos estados de São Paulo, Minas, Mato Grosso, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, é possível constatar a demanda gerada para carne de segunda e de terceira, em razão dos preços da carne de primeira, e por essa razão,  foi a responsável pela elevação dos preços. O pé de frango lidera, com um crescimento de 26% no consumo.

A venda de carnes de primeira, como a maminha, teve uma queda de 22%. Para ele, o consumo ainda é sustentado pelas unidades que ficam em regiões de classes A e B. O abandono da carne vermelha foi a saída para 67% dos brasileiros economizarem nas refeições, de acordo com a pesquisa Datafolha divulgada em 20 de setembro. A alta acumulada no preço da carne bovina chegou a 36% entre agosto de 2020 e 2021, segundo o IBGE. O frango encareceu até mais nesse período: 40,4% e os ovos subiram 20%,.

Ossos e a fome

Imagens de pessoas buscando ossos que costumavam ser descartados por frigoríficos e açougues viraram um retrato da realidade de famílias de baixa renda nos últimos meses.

Mas, não é de hoje que a carne está cara, nem é recente o consumo de ossos como única opção para a população mais pobre, de acordo com o diretor-executivo da ONG Ação Cidadania, Rodrigo “Kiko” Afonso.

“R$ 170 é a média do Bolsa Família, com isso, vamos combinar, como compra comida para a família, paga o aluguel, roupa, transporte para arrumar emprego? Independente do preço da carne, já não poderiam comprar com o preço anterior”, afirma Kiko.

“Já tinha uma defasagem enorme do salário dessas pessoas. Com o aumento tirou toda a possibilidade dessas pessoas se alimentarem de arroz, feijão, carne etc.”, complementa Kiko.

Dieta pobre

Parte da população recorre aos ossos para ter uma proteína nas refeições e, de fato, esses produtos possuem resquícios de proteína animal, explica a doutora em nutrição e professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Ingrid Dantas. Mas uma dieta restrita de ossos pode levar à desnutrição. Isso porque, além de pobres em proteína, eles são ricos em gordura.

Segundo a especialista , após o cozimento, esses restos de proteína grudados aos ossos se solubilizam, gerando o caldo, mas os nutrientes estão em quantidades insuficientes, já que são apenas resquícios da carne. Além disso, o consumo excessivo de ossos pode acabar prejudicando a saúde, já que a medula óssea é rica em gordura.

Segundo a nutricionista, este tipo de alimentação fere o artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o artigo 6 da Constituição Federal, que determinam que todos têm direito a uma alimentação adequada e, no caso da Constituição, que este direito deve ser protegido pelo governo.

“Apesar de trazer um aporte proteico para quem está consumindo, vem com isso a ingestão exagerada de gordura e sal, além dos aditivos que estão presentes nos produtos e podem gerar um quadro de desnutrição direcionadas à obesidade”, diz Ingrid.

O caminho dos ossos

Quando não são voltados à venda, os ossos, após a desossa, seja no frigorífico ou em açougues, são direcionados para indústrias de rendering, que transformam os subprodutos do animal em novas mercadorias, explica Augusto Antoniazzi, diretor industrial do frigorífico Zimmer.

Ele relata que as peças normalmente são divididas entre dianteira, traseira e costela, e, nesse processo.  O direcionamento para o rendering ou, como também é conhecido, graxaria ocorre logo após serem feitos os cortes que dividem a carne que chega até a casa do consumidor.

Vão para rendering, os ossos, membranas e partes retiradas do animal durante o processo de limpeza. Na indústria, os ossos passam por um cozimento e a prensagem, onde eles são separados do sebo, que por sua vez, é usado na indústria de cosméticos e biodiesel, por exemplo. Já os ossos seguem para a moagem, onde são transformados em farinha para a alimentação animal. “É um processo de reciclagem. Em frigorífico tudo se reaproveita, desde a água até todos os pedaços do animal, não tem descarte, tudo tem um reuso”, afirma.

Antoniazzi explica que esta destinação é feita porque não é costume de o brasileiro consumir ossos. Porém, o caminho para a indústria de rendering não é obrigatório. O açougue ou o frigorífico pode encaminhar o produto para descarte ou doações também, por exemplo.

TEXTO: Eliana Saraiva (com informações da Abrafrigo, Globo Rural, Band News).

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