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Boate Kiss: julgamento tem bate-boca acalorado

Santa Maria (RS) - O incêndio da Boate Kiss, o segundo maior do país em número de vítimas – 242 mortos -, completa, amanhã (27), um ano. Curiosos param para olhar e fotografar o local (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Terceiro dia foi marcado pelo depoimento do produtor Luciano Bonilha, que diz ser inocente e que trabalhava na noite da tragédia

O terceiro dia do tribunal do júri que julga os quatro réus acusados de serem os responsáveis pelo incêndio na boate Kiss começou com um bate-boca entre o advogado de Luciano Bonilha, Jean Severo, e a testemunha de acusação do Ministério Público, o administrador Daniel Rodrigues da Silva, de 40 anos. Depois de o juiz Orlando Faccini Neto pedir calma e apaziguar os ânimos, o período da tarde foi marcado por depoimentos técnicos e discussões sobre a recarga dos extintores e a colocação de espuma inflamável para isolamento acústico do espaço.

Para agilizar o andamento do julgamento, já que os depoimentos têm sido longos, o Ministério Público propôs que cada parte reduzisse o número de testemunhas e vítimas. A proposta foi apresentada no plenário e autorizada pelo magistrado. Com isso, o depoimento de três testemunhas e de uma vítima foi retirado da programação. No total, serão ouvidas 12 vítimas, 16 testemunhas e um informante.

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Ao menos três familiares de vítimas passaram mal durante os depoimentos e tiveram de ser atendidos pela enfermaria do Foro Central de Porto Alegre.

Produtor musical

O produtor musical Luciano Bonilha, que trabalhava com a banda Gurizada Fandangueira na Kiss por ocasião do acidente e atualmente é réu do caso, foi um dos protagonistas do dia. O advogado dele, Jean Severo, e a testemunha de acusação do Ministério Público, o administrador Daniel Rodrigues da Silva, de 40 anos, tiveram um bate-boca na sessão. Questionado pela bancada de defesa se a loja de artefatos pirotécnicos foi fechada pela polícia, o proprietário negou. A defesa do réu insistiu, e ele disse que não iria responder. Na sequência, Severo se levantou e gritou: “Vai ter que responder, você colocou este inocente aqui”, apontando para Bonilha.

Segundo Daniel, o estabelecimento é regulamentado pela polícia e não foi fechado em nenhum momento. O proprietário diz que o produto Sputnik, artefato que teria sido comprado por Luciano Bonilha, é recomendado para ambientes externos. O artefato teria sido utilizado pelo vocalista da banda Gurizada Fandangueira. Exaltado, Severo se levantou e bateu boca com o juiz Orlando Faccini Neto.

Em um dos intervalos, Luciano Bonilha criticou a testemunha em entrevista a jornalistas. “Ele falou aqui que não me conhecia. Ele disse que eu tinha conhecimento técnico, que tinha me avisado de que tinha um produto mais barato e [outro] mais caro. Eu só cheguei lá e comprei e fui lá tocar minha vida”, afirmou.

Ele falou também que é inocente e que estava apenas trabalhando na noite do incêndio. “Seu eu pudesse, mesmo sabendo que sou inocente, já falei para o Jean [advogado] e vou falar para os jurados, se me condenar tira a dor deles, me condenem. Tenho certeza de que sou inocente e que estava lá trabalhando”, diz.

Extintores

Ainda pela manhã, a testemunha de acusação do Ministério Público Gianderson Machado da Silva, funcionário de uma empresa que fazia a manutenção dos extintores da boate Kiss, foi transformada em informante após ser apresentado em plenário um post nas redes sociais em que a filha dele pedia a condenação dos réus. A manifestação foi parar nos trending topics do Twitter. De acordo com a defesa de um dos réus, a postagem comprometeu a credibilidade do depoimento, porque mostrou “predisposição a condenar os acusados”.

Em sua participação no julgamento, Gianderson Machado da Silva disse que fazia a manutenção dos extintores da casa noturna uma vez por ano. “Nossa função era avisar ao cliente que iam vencer os extintores.”

“O senhor revisou esse extintor meses antes. Ele teria que estar funcionando?”, questionou o Ministério Público. “Se não estava, pode ter sido violado, mexido, tirado o pino, derrubado. Pode acontecer.” Gianderson disse que verificou quatro extintores em funcionamento e que compareceu à boate durante três anos. “Os três anos que eu fui, dentro do mês de vencimento, foi efetuada a recarga. As recargas são feitas uma vez por ano. O cliente tem que apresentar a recarga para a renovação do alvará. Não é comum um extintor revisado falhar”, disse o informante.

Fumaça preta

À tarde, o depoimento de maior destaque foi o do então barman Érico Paulus Garcia, de 30 anos. Ele contou que ajudou entre 15 e 20 pessoas a deixar a casa noturna naquela madrugada do dia 27 de janeiro de 2013.

Garcia relatou ainda que ajudou a colocar espuma no palco e no teto. Contudo, ele diz que não saberia dizer se o material era inflamável ou não e se era de boa qualidade ou não. “Quando eu cheguei lá, os rolos já estavam.” Em relação à estrutura do estabelecimento, o ex-funcionário confirma a existência das barras de ferro que dividem os espaços. Ele disse ainda que avistou as placas de saída.

O barman disse que, ao olhar para trás, no ambiente em que estava, avistou uma “nuvem preta”, segundo ele, “semelhante à de um vulcão”. Ele afirmou ainda que, para deixar a casa noturna, tirou a camiseta e tampou a boca com ela para conseguir respirar melhor. “Tirei a camiseta e tampei a boca. Respirei a fumaça e saí vomitando”, recorda. Garcia também disse que havia táxis estacionados em frente ao estabelecimento que impediam a saída dos jovens. “Uma pessoa chegou a quebrar o para-brisa do táxi.”

Na imagem, espumas com o mesmo material usado no isolamento acústico da boate Kiss e que teria liberado cianeto, um composto químico que teria sido uma das causas das mortes.

O julgamento dos quatro acusados de serem os responsáveis pelo incêndio na boate Kiss, que deixou 242 mortos e mais de 600 feridos em 2013, foi retomado nesta sexta-feira (3) com o depoimento de sobreviventes. O Tribunal do Júri chega ao seu terceiro dia. O processo do caso das vítimas da boate Kiss tem cerca de 19 mil páginas e está exposto na sala de julgamento do Foro Central I de Porto Alegre, em frente ao juiz Orlando Facchini Neto.

Fonte: R7

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